15 de fevereiro de 2009

A JUVENTUDE DO MST E A CONSTRUÇAO DA IDENTIDADE DE LUTA POLÍTICA E IDEOLÓGICA

DEZ/2008

INTRODUÇÃO

As considerações que pode ser feita neste trabalho é que o empenho em tentar compreender o processo de construção da identidade jovem Sem Terra, as suas dificuldades no campo das políticas públicas e, fundamentalmente, o descaso do poder público com a vivência desta parcela da sociedade que vive no campo.

A juventude, na sua diversidade precisa ser ouvida, e mais que isto, é necessário que as suas qualidades, desafios e anseios sejam levados em conta pelos governantes e pelas organizações da sociedade. Esta é uma fase da vida humana tão importante quanto outra qualquer, por isso as palavras dos jovens precisam ser ditas e ouvidas para que assim possa ser dado um sentido a estes sujeitos que fazem parte do cenário social brasileiro.

Ser jovem não é problema, não é diminuir as qualidades de um ser humano. Ser jovem é passar de forma firme pela vida e deixar as marcas de uma construção. Assim, o MST tem a grande tarefa de inserir estes jovens na discussão política na luta pela cidadania, aqui o movimento é visto como um campo de possibilidade e de esperança. As iniciativas que já somam-se a esta luta, não é o bastante para garantir aos jovens uma maior democratização dos meios e de acesso à cultura.

O MST, enquanto organização e enquanto quadro de sujeitos, tem a tarefa histórica de proporcionar aos jovens a possibilidade de construção de uma nova cultura e de uma nova identidade. Formar a juventude de um novo jeito, a partir de uma nova cultura é tarefa de todo militante compromissado com a causa da luta popular e da libertação das consciências.

 

PALAVRAS-CHAVE

Juventude – identidade de classes – lutas sociais

A questão acerca do universo jovem rural, nos seus aspectos culturais políticos e sociais é ainda recente na historiografia brasileira. Geralmente, as pesquisas dão maior atenção sobre o que está acontecendo no mundo urbano. Dentro desta lógica, os jovens do meio rural, categoria fluida, imprecisa, variável e extremamente heterogênea, permanece no anonimato em se tratando das esferas sociais de participação. E isso dificulta a compreensão de sua complexidade e inclusão no mundo contemporâneo e globalizado.

Este estereótipo decorre de uma visão urbana de sociedade onde o espaço rural inexiste, principalmente dentro da cultura e do desenvolvimento adotado dentro dos padrões brasileiros. Um dado exemplo das possibilidades pelas quais vivem os jovens do campo é o fato destes se desafiarem mais cedo do que o esperado para sobreviver e, até mesmo, ajudar a família. Isso pressupõe também pensar que muitos jovens do campo não vivem a sua juventude como deviam. Ela é atropelada pela necessidade e pela falta de condições objetivas de vida.

Esta análise parte do pressuposto de que no meio rural brasileiro, as políticas públicas de inclusão social são fragilizadas ou quase não existem. O que existe é o descaso, principalmente com as condições de acesso aos bens materiais, tais como a moradia, a terra, a boa alimentação e ao lazer.

Um dado mostra que grande parte dos jovens em idade escolar são obrigados a servir de mão de obra barata para as fazendas e empresas rurais, isso mostra o grau de dificuldades que estes enfrentam. Contudo, não encontram soluções adequadas sem estarem minimamente organizados em associações ou grupos comunitários.

O MST organiza homens e mulheres,crianças,jovens e adultos, que queiram lutar pela reforma agrária, incluindo os jovens. Esse movimento, pela natureza histórica de movimento de massas, está em constante movimento na busca de melhores condições de vida para todos aqueles que se juntam para lutar: o homem, a mulher, o idoso, a criança e a juventude. Em se tratando da juventude do MST, tem se buscado organizar várias ações envolvendo-os, já que se trata de aproximadamente 70% de sua base social e 90% da militância ativa do MST.

Neste trabalho, a preocupação reside nos desafios colocados pela realidade social aos jovens desde o MST: Como processo de formação política educa os jovens Sem Terra? Em que medida esse processo atrai a juventude? E como a luta interfere no grau de consciência política e participação dos jovens Sem Terra? Como o MST conecta ao seu projeto político a participação e a formação da juventude?Quem são os jovens Sem-Terra do MST? Quais as características dos jovens do MST? Que eixos aglutinadores de sentido orientam as experiências de juventude do MST?

 

 

IDENTIDADE E LUTA POLITICA DOS JOVENS SEM-TERRA

 

Nos acampamentos e assentamentos é comum encontrar jovens com diferentes trajetórias de vida, filhos de camponeses, recém chegados de periferia dentre outros. Todo este conjunto de pessoas com trajetórias diversas reflete uma condição que é geral dos sujeitos participantes do MST, estes jovens estão construindo uma identidade ligado ao movimento do qual participam.

Por isso, convém questionar: O que é identidade? A identidade identifica uma trama de inúmeras representações de ‘outros’ (semelhantes e diferentes) e de um ‘si mesmo’ (continuidade e transformação). Ela, por sua vez, ao ser processada, orienta as demais representações do mundo. Os jovens Sem Terra se enquadram em uma categoria social de pessoas em construção. Como na sociedade ocidental a formação da identidade, via de regra, se define ou se caracteriza por um tempo em que os sujeitos se colocam ou são colocados sob novos olhares sociais, como os jovens Sem Terra se apresentam nesta sociedade. Pois, segundo Castelo Branco (1999, p. 4): O estudo da identidade de determinado grupo social ressaltará tanto das formas como o grupo se vê, se simboliza e discursa sobre si mesmo, como das formas como a sociedade os vê, os simboliza e discursa sobe eles., ou são as gerações adultas de uma sociedade estão orientando as gerações futuras e como o próprio jovem elabora estas orientações e aponta para os novos caminhos

 

A presença dos jovens no MST se constitui por atribuição de caracteres, papéis, e representações, mas também pela reserva de posições, atitudes, políticas e formas de educar. Por isto, a juventude é menos uma idade pré-fixada do que uma construção social. Isto faz da juventude uma condição transitória, ou seja, os indivíduos não pertencem grupos etários, eles os atravessam. E, ao atravessá-la, vão construindo sua identidade de forma participativa e coletiva.

 

As identidades se processam em determinados locais, mas em meio a realações espacializadas (...) Os indivíduos e grupos se vinculam de determinadas formas aos seus lugares e aos seus deslocamentos, desenvolvendo modos de atuar inúmeros sobre o mundo, ocupando posições sociais, com acessos diferenciados a objetos e a informações ( BRANCO 1999, p. 9-10).

 

As relações espacializadas ocorrem a cada vez que os jovens participam das ações do MST, seja no espaço local, nas marchas, nas reivindicações ou mesmo nos cursos formais e informais de formação. O momento crucial desta participação do jovem, e da própria identificação do movimento, acontece a cada vez que o movimento realiza uma ocupação. Cada ocupação tem sua própria história, embora todas sejam atravessadas pelas orientações gerais do MST. Mas, cada vez que uma ocupação é organizada pelo MST, a luta mais ampla se reproduz e intensifica, embora esteja sempre começando um processo de construção local, de onde passam a orientar as novas gerações.

Os acampamentos iniciais são a inauguração de uma comunidade de resistência. Aos poucos, se estruturam relações, conflitos, reconhecimentos, em meio aos quais as novas gerações vão constituir um conhecimento sobre o mundo e sobre si mesmas”. A formação da identidade como discutido pela sociologia, tal como realizamos aqui, recupera a importante noção sociológica de identidade interativa, em que o indivíduo não só está sujeitado, como também é sujeito das relações sociais. A Sociologia, assim, considera que o particular e o genérico se interpenetram., ou seja, não há cisão entre o indivíduo e a sociedade, embora seja possível por meio da abstração considerar um e outro como realidades diversas.

 

Na interação social, o homem produz sistemas de significações. Assim, as ações coordenadas da atividade humana cristalizam-se nos instrumentos (condensando operações) e no signo (que as representam). Torna-se possível a transmissão cultural, que permite às novas gerações o desenvolvimento humano (CASTELO BRANCO, p. 26).

 

Assim, a identidade dos Sem Terra só pode emergir com as formas históricas da atividade coletiva destes seres humanos. No MST, a identidade de Sem-Terra emerge quando coletivamente sentem a necessidade de incluir em suas articulações a produção, o consumo e a distribuição dos bens sociais; articula o econômico, o político e o ideológico da existência humana em um processo de transformação permanente. Somente quando os Sem-Terra se inserem coletivamente no mundo real e simbólico da sociedade brasileira.

É possível falar em identidade Sem Terra. Uma identidade que não foi produzida exclusivamente a partir de um discurso, mas está estruturada em espaços conquistados coletivamente em meio as disputas econômicas, legais, políticas e ideológicas vigentes na sociedade. Juntamente com o processo de conquistas relações, valores e discursos são captados, elaborados ou (re)significados pelos Sem-Terra.

A totalidade composta na luta dos Sem Terra é conseguida pela retomada das relações históricas de exclusão e de subordinação situadas no passado e, ao mesmo tempo, pelo reconhecimento da essência dessas mesmas relações configuradas no tempo presente, facilitando a produção de sentidos do próprio grupo. A produção destes sentidos está amparada na sociabilidade criada entre os Sem Terra, o que  exige que cada Sem-Terra em particular, que nasce em determinado grupo, ou nele é transformado, ou nele é formado, aprenda uma série de valores e habilidades que lhe permitirá viver um cotidiano.

 

Os estudos das identidades sociais se referem aos significados, valores ou representações através dos quais as pessoas se reconhecem mutuamente e que as ligam e diferenciam de determinados grupos, movimentos, classes, etnias, nações etc. A ligação e a diferenciação não são, apenas, racionais, mas, principalmente, emocionais (CASTELO BRANCO, 1999, p. 36).

 

A identidade do Sem-Terra se estrutura não só com bases na vivência de diferentes sujeitos e contextos políticos diversos, mas também está fundamentada em espaços específicos. Existe a influência espacial a conformar a identidade de cada novo grupo que se integra ao MST.

 

O que poderíamos chamar aqui de identidade espacial, que nada mais é do que a moldagem e remoldagem de relações no interior de diferentes espaços, conduzindo a espacializações diferentes porque apoiadas em lugares de referências diversos. A identidade espacial ou espacialidade mesmo sendo diversa pode estar apoiada em sistemas de significações e representações que são identificados como unificados ou de reconhecimneto mútuo entre os sujeitos que se lançaram na mesma luta por meio do MST – os Sem-Terra do MST, a mística, a organização coletiva (COSTA, 2004, 184 – 189).

 

Por isto, os assentamentos não podem ser vistos como uma consolidação cultural isolada, mas como parte integrante de uma esfera cultural mais ampla. Contudo, isto não implica considerar que estar envolvido numa esfera cultural de semelhança que tende a ser unificada as formas diferentes de entender qual o significado da terra para cada um dos grupos ou cada um dos indivíduos assentados, embora seja inegável que todos se transformaram no processo de luta. Neste sentido, convém ver o espaço como algo mutável, inclusive nos sentidos que ele nos oferece à consciência, como nos diz a citação abaixo:

 

Segundo Mesquita, a consciência territorial é entendida como a consciência do lugar, do lócus da sociabilidade mais próxima vivida no cotidiano, resgatando-a das próteses audiovisuais da mídia, para oferecer-lhe chances de vir a ser sociabilidade. Elo de conexão com o universal, podendo ir além dos limites do espaço físico mais próximo, a consciência do território é o Lócus onde se forjam os projetos de vida individuais. (p. 89).

Desse modo, a consciência social do território é um “processo de sucessivas interrupções nos acontecimentos, oportunizadoras de transformações nas vivências individuais e coletivas como chances de aprimoramento paulatino da consciência territorial em cada mutação” (Mesquita, p. 90).

Por ser, o espaço oportunizador de experiências diversas, o MST faz da luta pela terra uma luta coletiva da família. Pois estas famílias unidas na luta facilita o processo de transformação e formação da identidade de toda a família. Fator indispensável para permanecer na luta e resistir até a conquista da área ocupada. O MST, nos seus vinte e dois anos de história de luta social, sempre se constituiu como um movimento que lida com as massas. São famílias de realidades distintas, màs que enfrentam os mesmos problemas que é de toda a sociedade marginalizada do Brasil.O processo de inclusão dos jovens desde cedo na luta, se dá pela necessidade de termos quadros políticos que possam fazer avançar os processos de ocupação, nestes jovens estão um grande potencial do movimento.

Quando uma família vem para um acampamento o principal objetivo dela é conseguir plantar na terra para matar a fome da família. Más o que realmente acontece com os jovens? Como direcionar essas mentes para a construção de um novo modelo de sociedade? Como aproveitar a vitalidade da juventude? O potencial mobilizador do MST faz com que ele promova cursos de formação para aumentar entre os jovens a fileira de militantes na luta contra o latifúndio.

As iniciativas do movimento, no começo, eram poucas, más com o processo de consolidação do movimento nos estados fez com que outras possibilidades fossem abertas e dadas aos jovens. Mesmo assim, muitos jovens deixam o assentamento. Os motivos para que estes jovens deixem o campo e rumem para a cidade também é uma preocupação do MST. Existem casos que muitos filhos dos agricultores assentados já não se encontram mais morando no campo e esta é sem dúvida uma situação preocupante (MORISSAWA, 2001, p. 213).

Atualmente, a organização tem se preocupado com a formação técnica e acadêmica de seus membros, principalmente dos jovens. As atividades especificas direcionados ao público jovem são: os cursos de formação política, os encontros regionais, estaduais e nacionais, a articulação de núcleos de jovens nos assentamentos e acampamentos e, principalmente, a sua inserção do sistema produtivo, buscando alternativas de fixação na terra.

No Rio Grande do Sul, um dos Estados onde surgiu o MST, fica o Instituto Técnico da Reforma Agrária - ITERRA que tem como uma de suas funções dentro da luta pela reforma agrária a construção da identidade do povo do campo, oferecer cursos de nível médio, técnico e agora com cursos de nível superior e pós - graduação. No ITERRA, os jovens aprendem à convivência coletiva, em um espírito de solidariedade e respeito. As experiências dentro do ITERRA fazem da juventude defensora da organização;e construtores da identidade coletiva dentro do MST.

Outra experiência política riquíssima para toda a classe trabalhadora é a Escola Nacional Florestan Fernandes que está se articulado para atender quase 20 cursos em diversos níveis, desde a formação política até a formação acadêmica, principalmente dos jovens. Este é um espaço de referência nacional que por ele passa por mês mais 500 jovens de todo o país.

No Espírito Santo tem-se a experiência do curso de Pedagogia da Terra e curso técnico, juntos estes atendem 150 jovens dos estados da Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O curso de pedagogia que tem uma participação massiva de quase 90% de jovens. A intenção é formar jovens pedagogos para dar continuidade à construção da educação no MST. O curso técnico visa formar a juventude ligada à produção, com a tarefa de ajudarem a organizar a produção dentro dos assentamentos e acampamentos.

Aqui se encaixa o papel dos jovens em assumirem a luta e buscarem novas alternativas de cooperação, fundamentas principalmente no que se refere à construção de um processo de pertença ao MST. A identidade, neste aspecto, se apresenta como fator fundamental para a própria continuidade das formas de luta existentes no campo da reforma agrária. De uma maneira ou de outra, se os jovens não se assumirem enquanto sujeitos pertencentes ao movimento, possivelmente poderemos ter no futuro pouco do vigor da juventude na luta do movimento.

O movimento defende que a juventude deve estabelecer uma cultura diferente nas relações pessoais com a comunidade e a sociedade, criando e recriando valores que a organização acredita que devem nortear toda a militância Sem Terra,com intuito de formação de novos sujeitos sociais dotados de virtudes éticas políticas e sociais.

 

DESAFIOS DA PARTICIPAÇAO SOCIAL DOS JOVENS

 

O êxodo rural ocorreu em vários países do mundo. Logo há de se concordar com o provérbio chinês que diz: “Deus criou o campo e o homem inventou a cidade e que nós seres humanos temos mais atração por aquilo que nós criamos”. Neste caso, estes fatores estão relacionados com a constante mudança no cenário global, refletido no grande êxodo inaugurado no ultimo século.

A juventude aqui também tem uma forte tendência a se rumarem paras as grandes cidades na perspectiva de melhores condições de vida. Pensando nisso, nos perguntamos: o que poderia ser feito para deter a juventude no campo? No caso especifico do MST: Que mecanismos poderiam ser utilizados para que os jovens sentissem o gosto de permanecerem no campo e, consequentemente, dentro dos assentamentos?

Nesta lógica tudo pode ser relativo, mas se o espaço do assentamento dispuser para os jovens, trabalho, renda, energia, esporte e lazer, cultura etc. fundamentalmente as chances de esses jovens ficarem no campo irão aumentar gradativamente, uma vez que a mitologia da cidade já começa a se desgastar em vista de uma série de acontecimentos e frustrações sociais.

 

A precariedade nas condições de vida leva os jovens a buscarem a cidade, acreditando que lá esteja à salvação para tanto sofrimento, muitos querendo permanecer no campo, precisam mudar-se para estudar e ai passam a habituar-se à cidade e depois de formados já não conseguem mais ter interesses em voltar ao assentamento (BOGO, 1999, p. 79-80).

 

Este é, então, o principal desafio, se quisermos dar uma nova cara aos assentamentos através da força de trabalho e dos ideais da juventude. E para tanto, O estado precisa melhorar e modernizar as relações econômicas e sociais no campo, valorizando o social e fundamentalmente a situação econômica das famílias.

No MST, apesar das inúmeras dificuldades, os investimentos são em escolas de 1º grau completo, algumas iniciativas de 2º grau envolvendo cursos profissionalizantes. O grande desafio é construir os cursos superiores em parceria com o INCRA/PRONERA (Programa de Educação na Reforma Agrária) e diversas universidades públicas brasileiras.

Outra grande preocupação do MST é com a alfabetização dos jovens e adultos que não tiveram acesso à educação em idade própria. Esta política se direciona aos jovens entendendo que todos devem estudar e que sem educação a reforma agrária não avança e nem ganha qualidade em sua ação.

Além disso, o MST desenvolve diversos cursos de capacitação técnica visando o melhor desenvolvimento e administração das cooperativas* e o gerenciamento das agroindústrias dentro dos assentamentos. Isto tudo é fruto do esforço e da compreensão de que a reforma agrária significa a manutenção dos jovens no campo, na perspectiva de construção de um novo universo, pautado na solidariedade e, principalmente, no desenvolvimento de valores mais humanos e fraternos.

Assim, socializar o saber é um passo fundamental para a construção de um novo projeto de campo, um novo sentido para a identidade camponesa e, acima de tudo, para a valorização e melhoria das condições de sobrevivência no meio rural. É preciso desconcentrar o saber das mãos dos ricos, pois estes não têm a capacidade de sonhar o sonho do povo, o que estes precisam está em constante contradição com o projeto burguês de sociedade defendido pela classe dominante.

O que o MST, enquanto movimento social defende é a necessidade de organizar e manter a juventude no campo funciona, ao mesmo tempo, como desafio e meta a ser alcançada.

Não raro ouvimos dizer que o MST é composto por jovens ou até mesmo que nele se destaca a juventude. Esta é sem dúvida uma afirmativa verdadeira, pois, os jovens que participam do processo de lutas são jovens, filhos da luta.

Segundo Bogo, (1999, p. 82), esta constatação não deve ser o que nos leve a caracterizar o MST. Esta organização deve pertencer aos jovens por terem eles também, mais energia, mais vontade e mais facilidade de aprender coisas novas. As gerações mais antigas desta organização não tiveram a oportunidade de aprendizagem, por que as condições ainda não eram dadas. Percebe-se que no decorrer dos anos o movimento foi descobrindo e criando as possibilidades que fez a organização atual.

O MST, assim, deve pertencer aos jovens em todos os sentidos: Na economia, na política, na ideologia, na cultura e na pertença e identidade. Portanto criar esta mística, onde a juventude se sinta parte deste patrimônio construído, para libertar as futuras gerações (BOGO 1999, p. 82- 3).

Se as velhas gerações aprenderam de um modo incorreto ou frágil, também praticavam de um modo incorreto. Aprende-se de um novo jeito quando se pratica de um novo jeito. Isso implica refletir que nossa força está na prática e esta se aprende dando sentido a teoria. Sendo assim, os jovens precisam apegar-se aos livros, mas isso apenas não basta. Os intelectuais inorgânicos foram os que provocaram o divórcio da prática com a teoria. A juventude deve aprender de fato pela prática as tarefas que esta tem de cumprir enquanto função social, o que em outras palavras significa viver em plenitude a reforma agrária, seu caráter e sua importância.

A arte de produzir não deve ser mais importante que a de divertir-se, de sonhar e de construir novas possibilidades, isso tudo faz parte da existência humana e deve ser estímulo para o processo de construção da identidade da juventude do MST. Faz se assim necessário construir o diferente. Jovem não é um período de transição, mas um momento de estar sendo. Por isso, se este período não for valorizado e ocupado de coisas boas, passarão como passa a chuva de verão.

A organização que quer se tornar forte deve investir na formação dos seus quadros, pois como dizia Lênin: com analfabetos não constrói o socialismo, pelo simples fato de que o analfabeto é uma condição real que pode ser mudada. Para o MST não é diferente, com analfabetos não fará reforma agrária no Brasil, muito menos o desenvolvimento do campo. Os jovens precisam ser preparados em todos os sentidos para que se sintam encorajados se cumprirem a sua missão histórica (BOGO, 1999, p. 86).

No entanto, é uma infinidade de área que a juventude precisa se envolver. Ensinar a juventude a utilizar a terra, evitar o uso de agrotóxicos, coordenarem os acampamentos e os assentamentos, falar em público, cantar, etc... São mecanismos de valorização das capacidades e das habilidades dos jovens. o MST não avançara sem uma constante preparação da juventude e das futuras lideranças.

As pessoas precisam buscar maneiras de participação e ocupação, que lhes dê renda e dignidade. Assim, a juventude é chamada a criarem formas que lhes dêem ocupação e que ao mesmo tempo lhes sejam útil no melhoramento integral das condições objetivas de vida. Contudo, existe uma infinidade de formas de adquirir e melhorar a renda dentro dos assentamentos e que os jovens podem desenvolver, tais como: criação de pequenos animais, a apicultura, a construção de canteiros e viveiros de mudas, a venda de livros, as roças coletivas dentre outros.

Os jovens precisam se organizar em forma de brigadas para facilitar o processo de organicidade e também de produção coletiva. Precisam assim desenvolver formas organizativas para que tenham condições de atuarem organizadamente e também serem referencias dentro dos assentamentos e acampamentos. O método mais atrativo pode ser a organização em brigadas de trabalhos, que podem organizar a depender das condições geográficas de cada assentamento. As áreas de assentamentos e acampamentos poderão desenvolver várias tarefas, mas é fundamental que se estabeleça a direção coletiva, exercício pelo qual proporciona uma melhor divisão das tarefas. E os jovens podem ter várias tarefas dentro da organização dos assentamentos, na animação, na agitação e propaganda, na comunicação, e no desenvolvimento de novos valores estéticos dentro das áreas de assentamentos e acampamentos. Estas são algumas das formas de participação que em maior ou menor grau dá vida ao MST

 

REFERÊNCIAS

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